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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A leveza sustentável da Economia Criativa

A ferramenta de trabalho de artistas, artesãos, publicitários, escritores e músicos impulsiona a economia do século 21. Movidos por ideias inspiradas pela arte e pela cultura, seus empreendedores movimentaram meio trilhão de dólares em exportações em 2010.

Não é o petróleo, não é a água, não é o aço. Felizmente. O insumo de uso crescente nos dias de hoje se chama criatividade, um combustível renovável cuja expansão está diretamente ligada à intensidade do consumo. É este combustível que move a economia criativa, a resposta a um tempo que não pode mais depender de commodities finitas, processos destrutivos e sistemas de troca pouco justos. Um setor capaz de propiciar riqueza e, ao mesmo tempo, contribuir para termos um modo de vida mais inclusivo e sustentável.

Ao contrário das estruturas econômicas tradicionais, a economia criativa tem origem em algo intangível - a habilidade individual de usar a criatividade e o conhecimento para criar produtos e serviços inovadores, inspirados pela arte e a cultura. Instalado em um home office, uma cozinha ou uma garagem, alguém pode bolar uma ideia, despertar o interesse de inúmeras pessoas e viver muito bem com a renda que a atividade proporciona, enquanto sua ideia se expande em rede e leva à criação de emprego e salário para outras pessoas e a novas atividades comerciais.

É o que acontece com o design, a moda, a culinária, a música, o audiovisual, o ensino e o artesanato. Com a ajuda da tecnologia e de processos inovadores de gestão e difusão, resultam em games, festas populares, eventos culturais, aplicativos para celulares, filmes, softwares, shows, educação à distância.

Ao se unir a técnica ancestral de cestaria de uma comunidade ao design e à tecnologia, o produto potencializa a capacidade de circulação e renda contínua. Paraty era apenas uma cidade turística até compreender o benefício de aliar natureza, tradições e cultura, reinventando-se como um dos mais atraentes destinos do país com a ajuda de inúmeros profissionais e empresas movidos à criatividade.

As possibilidades não têm limites para a economia criativa, pois são atividades inseridas no estilo de vida das sociedades contemporâneas e têm tudo a ver com nossa rotina social, cultural e intelectual. Não se trata de um elemento novo. Aliás, a criatividade acompanha a história da humanidade desde sempre. A novidade está no reconhecimento dos seus frutos como um ativo econômico em si, que deve ser mensurado, precificado e integrado às cadeias produtivas. Isto faz toda a diferença, pois possibilita que receba tratamento de setor estratégico, com a inclusão em políticas públicas e acesso a planejamento, a crédito e a investimentos em formação e capacitação.

Embora ainda esteja carente de definições precisas e indicadores padronizados, o estudo Creative Economy Report 2010, produzido pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostra o dinamismo do setor, que avança a taxas de mais de 14% ao ano. Apenas as exportações de produtos criativos em todo o mundo foram estimadas em US$ 592 bilhões em 2010.

Benefícios econômicos à parte, a economia criativa começa a ser vista como sinal de uma nova mentalidade de produção e consumo, afinada com as urgências de uma agenda sustentável. O impacto da criatividade fortalece os setores tradicionais da economia, caso da moda com a cadeia têxtil e de confecção e da arquitetura com a construção civil.

O reconhecimento da contribuição de seus produtores à atividade econômica do país faz com que eles se tornem visíveis para a sociedade. E assim, saiam da informalidade, sua companhia mais constante. O fenômeno ganha mais impacto quando se confirma que, além da capacidade de gerar empregos, a economia criativa também se destaca pela qualidade e remuneração destes postos de trabalho. Cada vez mais, médicos, engenheiros e advogados competirão com cozinheiros, músicos, artesãos, editores e designers no imaginário dos jovens na hora de escolher a futura profissão.