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quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Manaus: Linhão de Tucuruí ameaça Reserva Ducke

O cenário já era ruim. O Linhão de Tucuruí iria passar bem perto, quase tocando os limites da Reserva Florestal Adolpho Ducke, um bloco com quase 10 mil hectares de floresta ao norte da cidade de Manaus, administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A fragmentação decorrente dessa passagem causaria problemas. Um deles é o efeito borda, ressecamento e morte de árvores a partir dos limites da área desmatada em direção o interior da floresta. Outro é o isolamento das plantas e animais que vivem na área, que podem perder a conexão com o bloco de floresta do entorno.

Agora, ficou pior. Pesquisadores do Inpa denunciam que o Linhão está cortando uma parte da reserva. Eles visitaram o local e prepararam um relatório, que demonstra que árvores foram cortadas e que estradas clandestinas foram abertas dentro da Reserva Ducke. "O projeto não foi realizado da maneira original. Ou seja, ele cortou uma parte do canto inferior da Reserva Ducke, cerca meio hectare, com corte raso", afirma o coordenador de Dinâmica Ambiental do Inpa, Paulo Maurício de Alencastro Graça.

Ele explica que entre os efeitos deste desmatamento está o aumento do risco de incêndios, devido à maior incidência de luz solar e um ambiente mais seco. Além disso, acessos abertos na área estão facilitando a entrada de pessoas na Reserva. "Noś verificamos que existe corte ilegal de madeira dentro da reserva e caminhos clandestinos", diz Paulo Maurício.

A obra foi licenciada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), mas os pesquisadores já estavam preocupados com os efeitos da obra, antes de denunciarem as diferenças entre o trajeto executado e o previsto. Marcelo Gordo, coordenador do Projeto Sauim-de-coleira da Universidade Federal do Amazonas, afirma que a população desses primatas na área pode ser inviabilizada em médio e longo prazo. "O problema com o linhão é que ele é um importante passo para o isolamento da Ducke e para urbanização do entorno da Reserva", afirma o biólogo. "Vai tornar ainda mais distante a possibilidade de conectar as populações de fragmentos florestais urbanos a uma população viável de sauins".

Na última semana de agosto, para apresentar o problema, os pesquisadores se reuniram com representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, advogados do Inpa e também da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. O Ministério Público Federal, que também deveria participar da reunião, não compareceu. O representante da Assembleia Legislativa questionou não apenas a atitude da Eletrobrás, responsável pela obra, e do Ipaam, que concedeu o licenciamento, mas também do Inpa, que segundo ele deveria ter tomado providências para evitar os danos à reserva.

estrada

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Parauacu: estudo descreve cinco novas espécies destes primatas

Pithecia pithecia

Foram dez anos de pesquisas, que levaram a primatologista Laura K. Marsh, diretora do Global Conservation Institute, a 36 museus de várias partes do mundo e às florestas da Amazônia. Ela analisou 690 crânios e também centenas de fotos de vários parauacus, para fazer uma revisão daquilo que a ciência conhece sobre estes tímidos macacos, que dificilmente são avistados na floresta. Tanto trabalho trouxe uma revelação gratificante: cinco novas espécies do gênero Pithecia foram descobertas, entre elas três endêmicas do Brasil.

Os parauacus são primatas de porte médio, que pesam entre 1,5 e 4 quilos quando adultos e medem até 1 metro de comprimento, incluindo a cauda que é um pouco maior do que o corpo. A cauda é bastante peculiar, mais grossa do que de outros primatas da região. Eles são encontrados na Amazônia desde o Planaldo das Guianas até a Bolívia, e desde a Cordilheira dos Andes até a região do Rio Xingu. Eles sofrem, como outros animais, com a fragmentação da floresta e também com a caça. Sua carne é uma das preferidas de tribos indígenas do Suriname.

O estudo foi apresentado durante 25o Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia, que aconteceu no mês passado em Hanoi, Vietnã, e publicado recentemente na revista científica Neotropical Primates. Ele faz uma revisão das, agora, conhecidas 16 espécies. "Eu comecei a suspeitar que poderiam existir mais espécies de parauacus, quando fiz uma pesquisa de campo no Equador", conta Laura Marsh. "Quanto mais eu via, mais percebia que os cientistas tinham confundido suas avaliações sobre a diversidade de parauacus durante mais de dois séculos", completa.

Repercussão

"O Brasil é o país com maior diversidade de primatas do mundo. Com as novas descrições já se conhecem 145 espécies."

Anthony Rylands, pesquisador sênior da Conservação Internacional, destacou que a descoberta das novas espécies é um grande passo para compreender a diversidade de primatas na Amazônia e no mundo, além de ser vital para a conservação delas. Uma das espécies descritas recebeu o nome em homenagem a ele: P. rylandsi, encontrada entre Brasil, Peru e Bolíva.

Outro homenageado foi o presidente da Conservação Internacional e dirigente do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN, Russel Mittermeier, que fez estudos sobre o gênero e identificou a preferência de índios do Suriname por caçar parauacus. O P. mitermeieri é endêmico do Brasil, encontrado entre os rios Madeira e Tapajós. "Esses animais estão se tornando cada vez mais importantes na economia das comunidades locais para o ecoturismo, com base no modelo de observação de pássaros e aves de listagem de vida ("life lists"), que se tornou uma indústria multi-bilionária em todo o mundo", afirma Mittermeier.

O Brasil é o país com maior diversidade de primatas do mundo. Com as novas descrições já se conhecem 145 espécies. E é quase uma certeza de que não vai parar por aí.

Novas espécies

Pithecia cazuzai


Espécie endêmica, encontrada na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, interior do Amazonas. Nome é uma homenagem ao primatologista brasileiro José de Souza e Silva-Júnior, curador da coleção de mamíferos do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA).

Pithecia mittermeieri


Batizado em homenagem a Russel Mittermeier, presidente da Conservação Internacional. É encontrado no interflúvio dos rios Madeira e Tapajós, desde Rondônia até o rio Amazonas. Também é endêmico do Brasil.

Pithecia pissinattii


O nome é uma homenagem ao veterinário Alcides Pissinatti, diretor e co-fundador do Centro de Primatas do Rio de Janeiro e vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências Veterinárias. Pissinatti é também pioneiro na reprodução em cativeiro de primatas brasileiros ameaçados de extinção.

Pithecia rylandsi


Encontrado no Sul da Amazônia, desde a tríplice fronteira Brasil-Bolívia-Peru, até o Mato Grosso. O nome é uma homenagem ao pesquisador sênior da Conservação Internacional Anthony B. Rylands.

Pithecia Isabela


Endêmico do Peru. O nome é homenagem a uma dama do Século XVIII, Isabel Grameson Godin de Odonais, que partiu em uma expedição pela Amazônia na tentativa de encontrar o marido, de quem estava separada fazia vinte anos. Após ficar sozinha, passar 28 dias na floresta, encontrar índios quechua e padres, finalmente o reencontrou.