Falar em sustentabilidade significa mais do que usar um jargão da moda, uma mudança de hábitos e formade estar no mundo. Usar dos recursos naturais de forma perdulária, como se o recurso nunca fosse se extinguir, além de inconsequente é pouco econômico.
E quando o assunto é água, aí que a mudança de hábitos precisa ser mais profunda e alcançar a intimidade: será que levar 30 minutos no chuveiro é realmente necessário? Fechar a torneira enquanto se ensaboa os pratos pode economizar dezenas de litros. Os números revelam que 38% das águas tratadas são desperdiçadas por mau uso, quantidade suficiente para atender a pelo menos cinco milhões de pessoas.
No âmbito doméstico, a desinformação acaba por gerar displicência e o desperdício se agrava, especialmente nos meios urbanos,onde a água chega com maior frequência e abundância. Outro dado é que, quanto mais elevada a classe social, maior quantidade é consumida e também desperdiçada. De acordo com informações da Embasa, um cidadão de classe média alta gasta até 400 litros de água por dia. Um baiano de classe média baixa consome diariamente 200 litros de água.
Para o professor de Saneamento, da Universidade Federal da Bahia e PHD em Saúde Ambiental, Luis Roberto Santos Moraes, o grande vilão do uso irracional da água no ambiente doméstico é o sanitário. Talvez quem mais desperdice água sejam as descargas de vasos sanitários. “No padrão comportamental de nossa sociedade, a cada vez que utilizamos o vaso devemos dar uma descarga. Em média, esses equipamentos gastam 10 a 15 litros de água limpa, tratada e potável no mínimo. Se você pensar que o que cada indivíduo libera de urina e para limpá-la gastamos 15 litros (despejamos 80 a 100 vezes a quantidade de urina depositada num vaso). É muito mais do que o necessário para limpar! Num banho mais demorado, podemos jogar fora quase 100 litros de água. E essa água que desperdiçamos assim,logo se torna esgoto ao se encontrar comos excrementos e se perde”, acrescenta Moraes.
Água em casa - A água utilizada em Salvador percorre longas distâncias, e em sua maior parte vem do Rio Paraguaçu, no Recôncavo Baiano. Para abastecer a maioria dos soteropolitanos as águas percorrem distâncias de até 89 km. Seu desperdício envolve também a perda de recursos humanos e energia.
“Salvador não tem nenhum grande plano de captação da água de chuva, o que é um equívoco numa cidade, na qual os índices pluviométricos chegam a 2.000 milímetros de chuva por ano. Retiramos água de uma região em que chove 850 milímetros/ano. Mais outra irracionalidade”, critica o especialista.
“Em vários lugares do Brasil há leis municipais que determinam que os novos prédios devem ser construídos com sistemas de captura da água da chuva. Essa água pode ser empregada para fins menos nobres, para lavanderia, descargas e outros usos domésticos no qual gastamos dezenas de litros de água tratada e pronta para beber”, afirma Moraes. Outro ajuste que pode ser feito nas construções domésticas ou mesmo empresariais é a criação de caixas diferenciadas. Uma que recebe os dejetos dos vasos. Outra que recebe águas de serviço como pias e para banho. As águas passam por um processo de filtragem e tratamento e podem ser reutilizadas.
A própria água da chuva pode ser captada para fins domésticos, através de um sistema próprio de aproveitamento. “Depois que a chuva bate no telhado e limpa as sujeiras e impurezas, as próximas águas podem ser aproveitadas para os mais variados usos domésticos”.
Muito do discurso gera práticas como abertura de poços em condomínios e indústrias, contudo essa água não é avaliada ou analisada, seja pela Embasa ou pelo INGA, o que significa que pode ser límpida, mas não ter as condições adequadas para um consumo.
A indústria e a agropecuária já despertaram para a necessidade de um uso mais inteligente das águas, bem como são mais monitorados pelos grupos ambientalistas e a sociedade. Contudo, embora poluam menos, as indústrias ainda exploram pouco as possibilidades de reaproveitamento das águas, embora estejam mais atentas ao desperdício e à devolução da água mais tratada para os rios e esgotos. Hoje a atividade industrial consome 26% do conjunto do uso dos recursos hídricos. Já a agropecuária é quem mais consome água no país, demandando 52% das utilizáveis, ainda com pouca atenção para a sustentabilidade e um uso mais inteligente.
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