Quem mais perdeu no episódio das sacolinhas em São Paulo
foi a indústria nacional dos produtos biodegradáveis de origem
orgânica. A pressa do governo paulista e a avareza da associação de
supermercados (APAS) resultou, conforme escrevi, em um dos piores
acordos possíveis que não levou em conta a cultura do consumidor e não
capitalizou o sentimento favorável às questões ambientais.
Teve de tudo, inclusive caso de polícia por causa de fraude nas
sacolinhas biodegradáveis quando alguns comerciantes – por inocência ou
por astúcia – ofereceram sacolas de plástico comum como se fossem
biodegradáveis por 19 centavos.
E foi por causa destas fraudes que os supermercados, horas antes
assinar o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) com o Procon, segundo fontes
minhas, tinham marcado uma reunião com a associação dos fabricantes dos
plástico biodegradáveis (Abicom) para implementar um programa de
qualidade e etiquetagem para distinguir as sacolas verdadeiramente
biodegradáveis das impostoras.
Se de um lado, isto ajudaria a educar os consumidores sobre a
possibilidade de ter sacolas menos impactantes ao meio ambiente, pois se
decompõem em no máximo dois meses e permitiriam a implementação de
políticas de compostagem, do outro, ajudaria o setor nacional de
compostos biodegradáveis a ganhar escala o que, no final, reduziria o
preço das sacolinhas muito abaixo dos 19 centavos.
Mas a reunião com os fabricantes de compostos biodegradáveis foi
cancelado na última hora e os supermercados caíram no colo da indústria
plástica que ofereceu as retornáveis de 35 gramas por 44 centavos e
serão vendidas a 59 centavos.
A Abicom
abriga 12 fabricantes, alguns com tecnologia vinda das universidades
brasileiras, outras de empresas internacionais e ainda outras que
receberam investimento público do BNDES.
O Brasil é um país com uma forte indústria agrícola e vem nos últimos
anos pesquisando com afinco os plásticos biodegradáveis de origem
vegetal ou de processamento bacteriano, com matérias primas de resíduos
ou subprodutos do setor de agribussiness, como amido de mandioca ou
batata.
A substituição de bilhões de sacolas plásticas de origem petrolífera
poderia dar um impulso a este setor que pode, tecnologicamente,
substituir muitas das embalagens de PP e de isopor, o que resultaria num
círculo virtuoso, pois, com escala, estas empresas poderiam investir
mais em inovação a novos produtos.
Do outro lado, como é estratégico para a Abicom, daria um impulso ao
setor de compostagem, que engatinha no Brasil, apesar de ter o potencial
de também substituir os agrotóxicos oriundos do petróleo – e em muitos
casos importados – e de criar milhares de empregos.
É esta substituição que teme a indústria petroleira que patrocinou
campanhas às vezes mentirosas e terroristas para adiar seu final.
Em suma, se o acordo tivesse sido melhor pensado, as perguntas certas
dos consumidores que questionaram a lógica de proibir sacolinhas nos
caixas, mas permitir outras embalagens de plástico como sacos de lixo e
de hortifrutis, teriam sido respondidas de forma mais coerente com
ganhos de escala e políticas focadas no tratamento do resíduo orgânico
que, afinal, responde por 60% de todos os resíduos urbanos no país.
O governo paulista e os supermercados ao se recusarem a subsidiar
esta substituição e educar a população, brincaram com fogo ao atiçar a o
Procon a defender, com razão, os direitos do consumidor.
E assim foi assinado um termo de ajuste de conduta TAC que restituiu o
plástico de petróleo soberano – mesmo com um prazo fixo e pedido de
programas de educação – em detrimento a um outro produto muito mais
alinhado com a proteção do meio ambiente.
Agora que o TAC protegeu o consumidor foi implementado, está na hora
de propor um TAC para proteger o meio ambiente do descarte
indiscriminado das sacolas plásticas e focar em políticas coerentes que
promovam não só um produto com um ciclo de vida mais interessante, mas
que também tem a capacidade de criar uma outra indústria necessária para
o país que é a da compostagem dos resíduos urbanos.
Todo blog que tem incentivos e educa nas questões ambientais pra mim simplesmente o máximo. Preservação ambiental, Sustentabilidade temos mesmo de praticar essa idéias.
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