Nesta cidade densamente povoada, repleta de edifícios altos e
envelhecidos e onde as restrições ambientais e de reciclagem são
rígidas, empresas japonesas vêm aperfeiçoando algo que pode ser descrito
como demolição invisível.
Alguns edifícios são desmontados de cima para baixo, sendo o trabalho
escondido por um andaime móvel. Outros, de baixo para cima, sendo a
estrutura içada para baixo aos poucos, com a ajuda de um macaco
especial.
Às vezes, as técnicas parecem desafiar a gravidade, pois, embora os
prédios aparentem estar intactos, vão encolhendo aos poucos. Os métodos,
que resultam num canteiro de obras mais limpo e silencioso, podem
acabar chegando a outras cidades, à medida que arranha-céus envelhecidos
ficam obsoletos e que a melhor solução é demolir e reconstruir.
O mais recente arranha-céu de Tóquio a ser demolido às escondidas é o
Akasaka Prince Hotel, uma torre de 40 andares que se eleva sobre o
distrito comercial da cidade. Desde o outono, o prédio vem sendo
demolido, um piso de cada vez. Ele vem encolhendo ao ritmo de mais ou
menos dois andares a cada dez dias. No final deste mês, ele terá
desaparecido, para dar lugar a duas torres novas.
Hideki Ichihara, gerente da Taisei Corporation, que desenvolveu o
sistema, disse que a técnica tem benefícios ambientais e permite uma
separação mais eficiente do metal, concreto e outros materiais
recicláveis. Outra vantagem é de natureza visual: “Não queremos que as
pessoas vejam a demolição em curso”.
Os quatro andares superiores do hotel foram envoltos por um andaime
pendurado do telhado, que ficou intacto e que foi recoberto por painéis
que imitam a fachada. Quando os dois pisos superiores foram demolidos, o
“chapéu” formado pelo telhado e o andaime desceu lentamente.
O chapéu ajuda a minimizar o barulho e a poeira, em comparação com os
métodos mais convencionais de demolição de edifícios altos, que
envolvem erguer um andaime até o topo e em volta da estrutura, deixando o
topo exposto.
“Todos os trabalhos são feitos dentro da área coberta”, explicou
Ichihara. “O nível de ruído é 20 decibéis mais baixo que da maneira
convencional e há 90% menos pó saindo da área.”
Tirando o chapéu, contudo, o sistema da Taisei é semelhante a outros
métodos em que a estrutura é desmontada de cima para baixo. Outra
companhia japonesa, a Kajima Corporation, desenvolveu um sistema de
baixo para cima, cortando as colunas do edifício ao nível do chão e
abaixando a estrutura com um macaco hidráulico, à medida que cada piso é
removido.
“A ideia é conservar o prédio o mais intacto possível”, explicou Ryo
Mizutani, da Kajima, que em janeiro concluiu a demolição do edifício
comercial de 24 andares Resona Maruha, perto dos Jardins Imperiais.
Enormes macacos hidráulicos suportaram as 40 colunas do prédio.
Operários cortaram 75 centímetros de cada coluna, repetidas vezes, para
que a estrutura pudesse ser abaixada lentamente.
Por criar ambientes de trabalho controlados, os dois métodos
japoneses permitem a separação na própria obra dos materiais que podem
ser reciclados. No Akasaka Prince, disse Ichihara, a separação dos
materiais começa desde o alto. O concreto e o aço são trazidos para
baixo por guindastes separados. Com o método Kajima, de baixo para cima,
disse Mizutani, todos os escombros são criados no térreo, permitindo
uma separação eficiente dos materiais.
Uma lei de reciclagem aprovada em Tóquio em 2002 requer que sejam
reciclados os dejetos de madeira e concreto, além de metais valiosos
como aço, alumínio e cobre, mesmo que as empresas de demolição precisem
pagar para isso.
“As pessoas começaram a levar a reciclagem a sério”, comentou
Tsuyoshi Seike, professor-associado no Instituto de Estudos Ambientais
da Universidade de Tóquio. “As coisas mudaram drasticamente no setor da
demolição.”
De acordo com Mizutani, o método de sua empresa possui uma vantagem
adicional: os materiais de risco, como o amianto, não precisam ser
tirados do canteiro separadamente antes de ser iniciada a demolição
estrutural. Em vez disso, à medida que os materiais de cada piso são
separados, eles podem ser deixados ali até aquele piso chegar ao chão,
quando poderão ser removidos em segurança.
Mas o método de baixo para cima da Kajima possui uma grande
desvantagem: em Tóquio, cidade que tem grande incidência de terremotos,
um edifício separado de seus alicerces poderia desabar facilmente se a
terra tremesse. A solução encontrada pela empresa é construir estruturas
de concreto temporárias, com cerca de três andares de altura, dentro de
partes da moldura de aço do edifício. Sistemas de tranca que seriam
ativados no caso de um abalo sísmico amarrariam o prédio às estruturas
de concreto, presumivelmente garantindo sua estabilidade.

fonte: Folha de São Paulo.